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Construtor de Gente

Ser pai é ser um construtor de gente, um projeto sem fim feito de amor, limites e aprendizados compartilhados.

por Judite Scholz

Ser pai é como ser o arquiteto de um projeto que nunca termina. Você começa com um esboço – uma ideia vaga de como será –, baseada em memórias da própria infância, em erros que jurou não repetir, em acertos que espera reproduzir. Mas a planta não é fixa. Cada dia, cada conversa, cada olhar de espanto ou dúvida de um filho redesenha tudo. E, no fundo, você sabe: o edifício não é seu. Você é apenas o construtor, e a obra tem vida própria. Recebe influências, ganha contornos que às vezes você nem reconhece. Com frequência, não vai se comportar, pensar ou ser como você projetou.

Quando os filhos completam 9 ou 10 anos, nasce neles aquela mania irritante de perguntar “por quê?” para tudo. Não é o “por quê?” superficial de quem busca atenção. É um interrogatório filosófico, daqueles que fazem a gente engolir em seco e perceber que não tem resposta para tudo. Mas devemos estar atentos porque uma simples pergunta, por exemplo, sobre por que o céu é azul, exige mais que uma aula de física ou uma explicação sobre a dispersão da luz. Exige sensibilidade para entender que, no fundo, ele só quer saber por que o mundo é como é. E ali, na cozinha, com a xícara de café esfriando, você percebe que ser pai é isso: tentar explicar o inexplicável, sabendo que a verdadeira resposta está na busca em si.

Não é fácil. A paternidade exige que você seja, ao mesmo tempo, alicerce e telhado, firmeza e abrigo. Precisa dizer “não” quando tudo o que quer é ceder, porque sabe que o limite também é uma forma de amor. Precisa ouvir as histórias desconexas sobre o dia na escola, mesmo quando sua cabeça está cheia de contas e prazos.

Precisa aprender a consertar uma bicicleta, a criar uma história de ninar, a segurar a raiva quando a taça de sorvete vira no sofá. E, acima de tudo, precisa aceitar que vai falhar. Muitas vezes.

Mas há algo de libertador nisso: ser pai é descobrir que vulnerabilidade não é fraqueza. Não é só o filho que cresce – você também se transforma. Cada erro dele é uma chance de ensinar; cada erro seu, uma chance de aprender. São dois aprendizes, tateando no escuro, tentando entender o que significa ser gente.

Não há manual, nem planta final. A paternidade é um canteiro de obras eterno, onde você nunca sabe se o que está construindo vai resistir ao tempo. Mas, quando colocar seu filho para dormir e ele murmurar um “te amo” meio sonolento, você vai pensar que talvez o mais importante não seja a perfeição da obra. Talvez seja apenas continuar construindo, com paciência, com cuidado, com amor. Porque, no fim, ser pai é ser um construtor de gente – e isso, por si só, já é um projeto para a vida inteira.

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