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Polarização: a vida como ela

O que vai acontecer com o nosso bairro, o Jardim Paulistano, com a “gentrificação” da Avenida Rebouças e da Rua Pinheiros? Dou minha opinião no final deste texto, mas antes queria falar sobre o processo que estamos vivendo como sociedade. Até porque isso interessa a todos os leitores de aQuadra e não só aos do Jardim Paulistano.

texto Ricardo Guimarães | foto Jade Gadotti

Se você assistiu à posse do presidente Biden em janeiro, deve ter prestado atenção à fala da poetisa Amanda Gorma sobre o momento/processo que a sociedade americana – assim como a brasileira – está vivendo: “Não somos uma nação dividida, somos uma nação em construção”.

Lindíssimo! Preciso! E extremamente útil para passar por essa fase de polarização sem matar ninguém.

A gente sabe, a vida não é foto, é filme. E escolher ver a vida como um filme nos permite acreditar que a evolução pode nos surpreender com uma realidade mais animadora nos próximos capítulos. Depois da polarização, a negociação.

Você vai dizer que sou otimista ingênuo? Então, deixe-me explicar por que concordo com a Amanda G. Por que a polarização é uma fase e não um jeito de ser?

RICARDO GUIMARÃES - Crônica - Jornal aQuadra

Ricardo Guimarães: empresário de comunicação e consultor em branding para grandes marcas, é sócio e presidente da Thymus

@r.c.guima

É uma fase, assim como a juventude é uma fase entre a infância e a maturidade.

A linguagem da juventude é a polarização, e a solução da polarização é a exclusão do outro, tout court. E, claro, com a certeza de que a exclusão é a decisão mais justa, a mais correta e a melhor para todos. O jovem é belicoso assim porque está aprendendo quem é, e tudo que é “diferente” dele é ameaça a sua busca de identidade, ainda frágil. Sua visão de mundo é simples e sua maneira de lidar com o mundo também é simples: ou isso ou aquilo! Não tem terceira opção. Seu grito de guerra é simples e cheio de heroísmo: “Independência ou Morte!”.

Para deixar de ser simples e belicoso e poder assumir as responsabilidades de trabalhar numa empresa e ter uma família, o jovem ou a jovem deve entender que na realidade o grito é “Interdependência ou Morte!”.

A passagem da independência para a interdependência não é fácil porque normalmente o jovem confunde interdependência com dependência, que era exatamente a condição da infância da qual ele queria tanto se libertar. Para ele, é difícil entender que interdependência é dependência mútua e que, com essa consciência, independência evolui para autonomia.

É assim que entramos na maturidade, fase em que aprendemos que o mundo não é simples e que o “e” é uma ferramenta tão importante quanto o “ou” para entender a vida e administrá-la. Isto é, que as coisas podem ser e não ser ao mesmo tempo, que todos podem ter um pouco de razão e que o caminho da paz é a negociação.

Para se ter boas negociações, é preciso, primeiro, tirar as pessoas tipo jovem da sala – ops, olha a exclusão… –, corrigindo, é preciso tirar o modelo binário “ou ou” da conversa e instalar o modelo mental “ou + e”. Segundo, é preciso que as partes interessadas tenham clareza sobre suas identidades, interesses, necessidades e opiniões para facilitar a troca de ideias.

No caso do Jardim Paulistano, na minha opinião, devemos limitar a velocidade de qualquer veículo a 20 quilômetros por hora dentro do bairro, nas ruas estreitas sem calçada permitir a circulação apenas de veículos autorizados, nas ruas com calçadas definir duas mãos e estacionamento dos dois lados e, no bairro todo, nos fins de semana e feriados, permitir circulação apenas de veículos que tenham o próprio bairro como destino.

Sei que temos várias frentes conversando sobre o assunto. Estou junto. Somos uma sociedade em construção. Vamos negociar.

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