Logo de cara, o chef Felipe Rodrigues faz questão de esclarecer o apelido que recebeu na época em que estudava em Porto Alegre: Santo. “Não é que eu sou santinho não, é porque nasci em Santo Ângelo, interior do Rio Grande do Sul”, diz.
Depois de morar 11 anos no exterior, Felipe volta ao Brasil para comandar a cozinha do Tangará Jean-Georges, localizado no Palácio Tangará, o luxuoso hotel no Panamby. Esse é o 35o restaurante do chef francês Jean-Georges Vongerichten, o primeiro na América do Sul.
A história de amor entre Felipe e a cozinha vem da infância. “Na minha casa, não tínhamos costume de jantar. Como eu sempre gostei de comer comida, acabava preparando algo, como repolho refogado, pizza ou até ovo cozido. Isso com uns 10 anos. Minhas duas irmãs mais novas viam aquilo, pediam, e eu dizia: ‘Ah, mas isso vai custar alguma coisa’. Então, iam ao cofrinho delas, traziam dinheiro e eu dava o ovo cozido”, relembra.
Em 2003, quando foi para Londres, Felipe teve que trabalhar em lanchonetes e pequenos restaurantes para se sustentar. A certeza de que gostaria de estar em uma cozinha para sempre veio quando conheceu o restaurante The Belvedere, de Marco Pierre White. “Era uma cozinha inóspita, superquente, em uma casa antiga no meio do Holland Park. O sous-chef do Marco, Billy Reid, foi um cara que sempre acreditou em mim. Com ele, percebi que podia levar a cozinha a sério”, diz Felipe.
O ponto alto da carreira no exterior foi a passagem pelo Grand Hôtel de Estocolmo, que tem restaurantes chefiados por Mathias Dahlgren. “Um dos meus últimos grandes eventos lá foi o casamento da princesa Madeleine, da Suécia. Ela queria pratos do food bar para a festa. Nós preparamos um menu para 450 pessoas com pratos como beterrabas assadas com trufas negras, bacalhau fresco com lagostim e caviar”, conta o chef.
Depois de tanto tempo longe das origens, Felipe passou a sentir falta da família. “No meio do inverno escandinavo você pensa muito nisso. São seis meses de escuridão. Percebi que eu estava muito sueco”, diz, sorrindo.
Em 2014, a volta. Na bagagem, muitas caixas e um chifre de alce. Desde que retornou, Felipe mora na Vila Madalena e ama a região.