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Minha experiência com o sr. Armani, o estilista anti-moda

Como posso definir a imagem Armani?Alfaiataria em cores como o cinza fuligem tão característico, cinzas suaves se desdobrando até o azul marinho, padrões sutis, bolinhas e listras.

Jornal Armani, um compilado das nossas notícias no Brasil

Como posso definir a imagem Armani?Alfaiataria em cores como o cinza fuligem tão característico, cinzas suaves se desdobrando até o azul marinho, padrões sutis, bolinhas e listras.

Armani tem tudo a ver com elegância fácil, ele já trabalhava a diluição do gênero em meados da década de 1980, propondo peças para homens e mulheres. Suas roupas são elegantes, atemporais, discretas, onde a forma segue a função e onde o excessonão tem lugar.

No Brasil, a linha masculinada marca chegou em 1990, e eufiz parte desta história. Em 1989, eu era jornalista da RevistaVip, escrevendo sobre moda masculina (tenho uma inclinação forte para este repertório).Visitava aFenit, a grande feira e evento de moda da época, para fazer uma matéria. No espaço da Vila Romana euencontrei o empresário André Brett.Eleme confidenciou ali, entre os corredores,que em breve trariaa Armani masculinapara oBrasil.A Vila Romana foi responsável por muitos licenciamentos de marcas internacionais comoPierre Cardin, Christian Dior e YSL no país.O André me disse que procuravam uma diretora e eu imediatamente falei que gostava de trabalhar com jornalismo,mas se fosse para o sr. Armani, eu largaria tudo, foi uma brincadeira que eu fiz.Depois de uma semana,me chamaram para uma reunião. Brett havia me indicado para a direção da marca no Brasil e eu teria que passar por uma prova em Milão, uma surpresa e uma alegria, além da minha predileção pela moda masculina, eu trazia comigo a cultura italiana.

Eu me preparei para viajar, encomendei um terno na Tweed que era da Luiza Pimenta, na época, uma confecção masculina. Eu pedialgo bem alinhado com a marca e uma blusa branca de bolinhas. A Tweed era umaespécie de Armani, só que feito no Brasil. Eu fui para Milão enão existia o celular ou email, não tinha nada disso.Fui aoencontro no escritório de sr. Armani, me identifiquei – sou Helena do Brasil.Me colocaram numa salinha, fiquei quatro horas e ninguém apareceu.Eu sinalizei para a recepcionista, ela falou para euaguardar, já eram cinco horas de espera, então, eu peguei minha bolsa e fui para o hotel que era em frente onde eu estava, liguei para o Brasil e falei: “André – não sei, acho que não deu certo porque estou aqui há cinco horas e ninguém me chamou”, eele respondeu: “Helena, volte para lá”,eu voltei, fiquei mais uma hora e de repente abre uma porta e vejo o sr. Armani, ele me olha e fala “Buonasera, signorina” e eu respondo“Buonasera, sr. Armani”,voltei para o hotel e achei que não tinha dado certo, não fiz a entrevista. No dia seguinte recebium telex dizendo que eu estava contratada.Ele me viu, achou que eu tinha o perfil da marca,você vê, o que pode ser a força de uma imagem?

Eu voltei para o Brasil e comecei a trabalhar com a marca, montei uma equipe de estilistas, porque tínhamos que produzir absolutamente tudo. Naquela época não era possível importar e tudo que fazíamos tinha que seraprovado na Itália.A cada três meses fazíamos os protótipos e eu levava para Milão.Uma equipe de estilistas aprovava e o sr. Armani dava o veredicto final. Mas isso para dizer, que a gente desenvolvia até o tecido, naquela época as tecelagens eram muito boas, eram de extrema qualidade, ele ficou impressionado, ele aprovava tudo com apenas alguns pequenos ajustes.

Nós tivemos que contratar um alfaiate italiano, para vir acompanhar a produção no Brasil, porque era uma técnica completamente diferente, fazer um terno Armani, não era fazer um terno na Vila Romana.Os processos, todo o enchimento, importamos crina natural de cavalo. Desenvolvemos os zíperes, os botões, tudo deu certo, a única coisa que não deu certo foram as etiquetas, naquele momento, o Brasil não tinha um maquináriodejacquarddelicado, fizemos umas cinco, seis tentativas e nenhuma delas foi aceita, então decidimos comprar na Itália, eu colocava na mala e trazia.

Montamos a primeira loja em 1989, na Oscar Freire com a Bela Cintra,onde hoje é aKopenhagen, foi a primeira loja Armani no Brasil, veio todo o desenho de fora eum arquiteto brasileiro acompanhou o projeto.Foi a primeira noção de luxo que o Brasil experimentou, não tinha outra, tinha a Ralph Lauren na Oscar Freire, mas assim, daquele luxo moderno Armani,não tinha.A loja era toda de fórmica, mas uma fórmica com um efeito especial, tudo era único.

Fizemos a inauguração, um desfile, veio o estilista braço direito do Armani,Nicola Maimone, ele falava português pois era casado com uma brasileira, ele vinha para o país e acompanhava o nosso desenvolvimento. Camisaria, os tecidos, recebíamos o desenho e o original, reproduzíamos deixando o mais parecido possível. Eu fui para o Uruguai, Peru, desenvolvi toda a malharia, muitas coisas eles gostaram e acabaram comprando com os fornecedores, foi um trabalho incrível.

Eu cuidava de tudo, coleções, marketing, PR, eu era multitarefa. O primeiro desfile do Armani que fiz, corri um risco, porque eu escolhi a Pinacoteca onde ninguém bacana ia, por ser o centro de São Paulo.O André estava morrendo de medo dessa minha decisão, porque quem iriaà noite na Pinacoteca?Mas,a força da marca, levou todo ojet-setter para lá e a maioria ainda não conhecia esta obra incrível do Paulo Mendes da Rocha, foi um evento revolucionário, as pessoas se encantaram com o desfile e este lindo e histórico museu.O segundo desfile foi na casa do Jorge Elias, um estúdio de estiloflorentino.

Veio um Visual Merchandiserda Itália, Keith Scott, ele era o máximo, me ajudou muito na montagem da loja, ele nos orientou, fez todo o treinamento e eu fiz uma seleção das vendedoras, todas tinham que falar uma língua, isso era uma coisa única no Brasil, tinha o uniforme que veio de Milão, eram perfis interessante, meio socialites, era uma coisa assim, de prestígio. As meninas usavam o cabelo preso, eu chamei o Marco Antônio de Biaggi para fazer o look e a maquiagem. A experiência precisava ser a mesma da loja de Milão, porque a ideia era que a pessoa que entrasse em nossa loja, tivesse o mesmo astral da loja fora do país, o cheiro, a organização, tudo…

Eu aprendi que o luxo estava no detalhe. Uma vez eu estava em Milão e eu entrei na loja Armani, acho que era via Santo André, eu vi o sr. Armani lá dentro e eu fiquei olhando, observando, eu o vi pegar um alfinete do chão, então essa imagem me deu a ideia de que se você quer cuidar de uma imagem, você tem que cuidar muito bem, o vendedor não vai abaixar para pegar um alfinete, mas ele abaixou para pegar, então ele me ensinou isso, que o luxo está no detalhe, isso eu aprendi com ele. Quando eu viajava para ver os desfiles, o backstage, era ele que cuidava, era o olho dele, isso foi uma lição.

Com o governo Collor, abriram as importações, a marca encerrou o contrato de licenciamento que durou cinco anos, com lojas no Rio de Janeiro, Porto Alegre e vendas para multimarcas.A loja de São Paulo era a mais legal, era a queridinha dos homens do país. Após este período, o Grupo Armani pensou que era o momento de exportar o made in italy. O Giorgio Armani masculinoabriu na Bela Cintra, mas a verdade é que construímos naturalmente o tão falado brandawareness da marca no Brasil e uma clientela que se tornou orfã com o fechamento da flagship.

OArmani foi revolucionário na década de 1990, porque quando tudo ainda era largo e rígido, ele trazia a silhueta larga, mas desestruturada, os tecidos eram fluidos, o ombro era redondo, era uma ombreira molinha.Vi o último desfile do ArmaniPrivé de alta costura 21, intitulado”Shine” e você não precisa de mais explicações. Um desfile otimista que brincou com camadas transparentes de efeito holográfico, tecidos fluidos, alfaiataria e feminilidade bem dosada, tudo feito para durar. O sr. Armani aos 87 anos segue fiel aos seus valores e encanta, bravo!

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