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O segredo dos seus olhos

O fotógrafo paraense Luiz Braga revela a Amazônia sob um novo olhar e, por meio de um trabalho autoral que foi ganhando cor e relevância, conquistou o mundo.

por Judite Scholz

Nascido em Belém, o fotógrafo autodidata se formou em arquitetura. Talvez por isso as casas ribeirinhas e as pessoas que as habitam tenham despertado seu interesse. Artista reconhecido pelo domínio técnico das cores e da luz, é dono de um acervo requisitado por museus e galerias no Brasil e no mundo. Luiz Braga ganhou as manchetes internacionais da arte em 2009, ao ser escolhido representante do Brasil na 53ª Bienal de Veneza. Está com exposição no Instituto Tomie Ohtake, e ele ainda vai expor no Japão e na China este ano. 

Não espere imagens óbvias da Amazônia. As belas paisagens estão sempre por trás de personagens reais – e suas histórias valem tanto quanto as fotos. Confira aqui as ideias desse fotógrafo que fala com palavras e imagens.

Olhar para o outro

Isso foi uma construção que, obviamente, teve início com meu pai, que era médico psiquiatra e me ensinou a conviver com o diferente e, de certa forma, com os invisíveis. Foi com ele que aprendi a importância de olhar para o outro. Essa é a origem do meu olhar. Quando escolhi este universo como tema, não era palatável, não frequentava as galerias. Investi nesse universo ribeirinho de pessoas simples como o meu norte. E assim optei em permanecer em Belém, mesmo tendo tido várias oportunidades de viver em São Paulo, Nova York e Paris, e mesmo sabendo que teria outra vida, bem diferente.

Viver Belém

Esta foi uma escolha de vida. Este universo, como disse Moreira Salles, não é um universo originalmente amplo, eu revisito e volto aos mesmos lugares, mas a cada visita estou diferente e as pessoas estão diferentes e, portanto, a imagem é nova.

Amazônia

A Amazônia é extremamente colorida, geométrica e, nesse universo, alcancei algo que almejava: desenvolver um olhar meu. E apresentei esse caminho em 1984, na primeira exposição que fiz em São Paulo. 

Pandemia

A pandemia serviu para eu mergulhar no meu trabalho, revisar, só por isso foi possível essa exposição no Tomie Ohtake. Fiquei recluso, parei de viajar. Peguei Covid, tenho me dedicado a refletir muito, analisar. Perdi meu pai e minha mãe. Com essas perdas, acabamos valorizando de onde viemos, por que somos do jeito que somos.

Luz natural X artificial

Foi um aprendizado. Foram milhares de fotos erradas e não expostas até chegar às que deram certo. Fui descobrindo coisas e, a partir dessas descobertas, experimentando. Até hoje, é uma pesquisa que não para. Experimento o tempo todo. A questão da luz é um treino de 45 anos. Em muitos momentos, já sei como vai ficar o que estou enxergando na foto. É fruto dessa observação permanente.

Fotografar

É muito intuitivo ainda, mas incursiono, vou a certos lugares, deixo a vida me levar. O lugar tem que falar com você, te dizer alguma coisa. É importante que meu trabalho tenha relação com a minha alma.

Por trás da foto

Muitos anos atrás, viajei para a Amazônia com a Dorrit Harazim, editora da revista Veja. Eu tinha que fotografar uma mulher que falou por muito tempo, enquanto eu ficava aflito porque a luz estava acabando, então reclamei e a Dorrit me disse que é preciso prestar atenção nas pessoas. Percebi que era uma grande dica. Por mais que aquilo não seja uma grande foto, pode me impactar. Muita sabedoria, muita história de vida, muito afeto também. Não procuro o lado negro da lua.

Exposição “Máscara, Espelho e Escudo”

O catálogo da exposição deve sair agora, e terá algumas histórias que são importantes para entender o fotógrafo. Como aquelas histórias me ajudaram a crescer como ser humano. E também fotos de eu interagindo com aquelas pessoas fotografadas. É fundamental a cumplicidade do fotografado, gosto de interagir com a pessoa, gosto de saber dela, há 10 anos venho valorizando muito essa relação com os fotografados.

“Luiz Braga: Máscara, Espelho e Escudo” 

Instituto Tomie Ohtake | @institutotomieohtake

Rua Coropés, 88
Até 12 de dezembro

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