A senhora acredita que há um exagero na prescrição de remédios?
Há uma tendência à patologização das emoções, onde qualquer emoção é vista como uma ameaça. Há pessoas que tomam ansiolítico antes da reunião para prevenir qualquer ansiedade, antidepressivo antes da separação e assim vai. É fundamental compreender que a tristeza faz parte da vida e não precisa ser necessariamente medicada, ter uma rede de apoio amorosa muitas vezes é o que de fato faz diferença na superação, somada à terapia e a uma rotina mais saudável. Isso exige energia e disciplina, não se trata de soluções mágicas. A medicação pode ser necessária para um ajuste químico pontual, mas não deve anestesiar o paciente; é importante que ele sinta as emoções para vivenciar o processo, a vida deve ser experimentada.
É natural viver uma tristeza?
Viver é sentir. É preciso diferenciar entre emoção e anestesia. Muitas pessoas são anestesiadas com álcool, drogas, celulares, jogos, sexo, compras e com medicamentos prescritos. Há muitos médicos que, em 20 minutos de consulta, já prescrevem a solução para todos os problemas, e sabemos que não é bem assim. Às vezes, recomendo que o paciente ligue para alguém de sua rede de apoio e marque um encontro semanal. Até hoje, nunca tive um paciente que, ao expor sua vulnerabilidade, não fosse bem recebido. Muitas vezes, o paciente está se modificando e transformando a vida de outra pessoa. Estamos aqui para sermos úteis – esse é o propósito maior.
O autoconhecimento, por meio da terapia, é fundamental?
O autoconhecimento é um processo vulnerável, mas essencial para evitar as armadilhas que criamos para nós mesmos. Fugir de si nunca é uma solução, por isso a importância de uma medicação que não anestesie, mas fortalece sem impedir a percepção dos aprendizados. A ansiedade e a depressão indicam aspectos que precisam ser cuidados. A preocupação excessiva se instala em várias áreas da vida, até que o paciente perceba que a crise está nele, não no ambiente. O tratamento visa fazer com que o paciente sinta-se seguro
dentro de si.
A cannabis tem sido usada nesses casos?
O CBD (canabidiol) é um dos mais de 400 componentes químicos da planta cannabis e possui um efeito ansiolítico eficaz. A ansiedade é um sintoma que pode surgir de várias origens, frequentemente associadoao desequilíbrio do sistema endocanabinoide, responsável pela homeostase do corpo. Suplementar com fitocanabinoides pode ajudar a restabelecer o equilíbrio.
Qual é a vantagem de tratar a ansiedade com CBD?
O CBD não gera dependência química, pois não atua na via de recompensa. Além disso, é uma medicina integrada com nossa natureza, mimetizando os canabinoides que nosso corpo produz e ajudando a restaurar o equilíbrio, que no caso do corpo é sinônimo de saúde. O exemplo do biólogo cuidando de uma planta doente ilustra bem: ele examina o solo e nutre a planta para que ela se cure naturalmente. Da mesma forma, o CBD nutre nosso sistema e dá ferramentas
para o nosso corpo se curar.
Não tem contraindicação?
O CBD não possui contraindicações. Já o THC (tetrahidrocanabinol), muito usado para dores refratárias, ou seja, resistentes a opioides, pode alterar a percepção da realidade em altas doses. Por isso é fundamental o acompanhamento médico e uso de produtos de alta qualidade, além do uso do CBD para reduzir os efeitos colaterais do THC.
A senhora criou o Nativamed para facilitar o acesso?
A Nativamed é uma plataforma de acolhimento que facilita o acesso à cannabis medicinal legalizada, oferecendo desde consultas online com médicos de diversas especialidades até a obtenção da autorização da Anvisa e a compra do medicamento, que chega em até 15 dias. Quando o paciente apresenta sintomas psíquicos, como insônia, ansiedade, depressão ou compulsão, ele também recebe acompanhamento psicológico.
@maria__klien